quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Idiossincrasia Nacional

*: Idiossincrasia - Relativo a comportamento, modo de agir e pensar de uma pessoa ou grupo.

Pois bem, depois de mais de um mês sem escrever merda nenhuma, estou de volta com isso aqui. A ideia desse post já estava em minha mente há muito tempo, e só não tinha sido escrita ainda por pura preguiça da minha parte (o motivo pelo qual esse blog não angariou qualquer visita frequente. Um espaço que continua na primeira página depois de 3, 4 meses, realmente merece o ostracismo). A introdução que seguirá, já tá fora de tempo e contexto, mas não consigo pensar em outro jeito de iniciar esse post. Enfim, vamos lá, com essa desgraça.

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Há algum tempo atrás, uns dois meses mais ou menos, o Brasil teve, novamente, o carnaval, essa famosa celebração que, ao contrário do que alguns da mídia gostam de dizer, não é unânime.
Não, definitivamente não é, e sou eu um desses que não liga pro carnaval. A ideia de festa, e sei lá o quê, e vou ficar em coma alcoólico, e vou pegar herpes muito etc etc, não é algo com que eu me identifique, pelo menos não por enquanto, embora eu sinta alguma certeza de que ouvir música ruim nunca vai ser algo que eu vou planejar fazer. Carnaval no Rio, carnaval de clube, carnaval de bloco, carnaval em Salvador (bateu um nojo agora, taqueopariu) não são meu ideal de lugar pra ir e passar o tempo.

Mas tudo ok por mim.

Se a sentença de cima pareceu meio inesperada, essa era minha intenção, (se logrei êxito nisso, já é outra história), tinha que ser assim mesmo.

O objetivo desse post não é criticar (mais uma vez) coisas como o carnaval, o futebol, a novela, o samba, os políticos e tantas outras coisas que são sempre escolhidas pra serem criticadas. Na verdade, ao invés de criticar o criticado (como sempre se faz), vou criticar a crítica em si (isso fico repetitivo pra caralho, mas acho que deu pra entender). Vou voltar agora ao assunto do segundo parágrafo

As críticas a respeito do carnaval são, rigorosamente, sempre as mesmas: Ele paralisa o país, o ano só começa depois dele, é por isso que o país está assim...
A bem da verdade, as críticas sobre o Carnaval não são sempre as mesmas, as críticas sobre qualquer coisa característica desse país (futebol é o exemplo maior) levam sempre esses mesmos argumentos, muito fracos por sinal. Eles caem porque a base deles é fraquíssima, pra todos há algum argumento/exemplo que acaba por derrubá-los, se você acha que não é bem assim, vejamos então:

  • "O Carnaval é uma mostra de como o Brasil não vai pra frente, as pessoas ao invés de se preocuparem com o que importa mesmo, ficam aí de festinha": Bom, essa ideia parece, pra mim, sugerir que nenhuma comemoração, nenhuma festividade deva existir. Será esse um mundo onde apenas o trabalho, apenas o sério, somente a obrigação e o necessário interessem? Não sei quanto a você, mas eu (mesmo não gostando de carnaval) não quero viver nessa distopia.
  • "Os políticos brasileiros são corruptos, ineficazes e não fazem nada pelo povo, estamos mal representados." Essa resposta a seguir já foi dada milhares de vezes (e você certamente já a viu em algum outro lugar), repitamos ela, mesmo assim. Os políticos estão representando seu povo. É simples assim. Não vou dizer que todos que reclamam dos políticos façam o que listar a seguir (e tampouco compactuo com as atitudes de "nossos" representantes), mas se as atitudes da classe polítca fossem as de uma minoria, seria impossível eles seguirem se mantendo lá, depois de mais de 20 anos de uma dita democracia, a maioria honesta votaria eles pra fora de onde não merecem estar. Não vemos isso acontecendo, vemos pessoas que gostam de fazer "esquemas", que querem e buscam passar por cima das leis, das normas e das convenções; pessoas que acima de tudo querem tirar vantagem dos outros, e que se sentem ao conseguir fazê-lo, que tentam "convencer" a autoridade a fazer vista grossa sempre que cometem alguma irregularidade, mas que ainda assim reclamam da política. Sim, reclamam, na maior hipocrisia, "Ah, mas eles são políticos, tem que dar o exemplo a sociedade", meu caro, esses políticos são VOCÊ naquele lugar, você, falso moralista, bem que queria estar no lugar deles, e faria tudo igual se conseguisse. Você pede pra lei ser cumprida e fica indignado sempre que ganha uma multa, você reclama da putaria mas tá lá fazendo justiça com as próprias mãos todo santo dia, quer rigor, pena de morte, o caralho a quatro, mas vai mudar de opinião se alguém próxima for condenado a execução. Você quer tudo correto e como tem que ser, exceto pra sua própria pessoa. VOCÊ está sustentando essa merda e se você e outros assim não mudarem de atitude, certamente seguiremos nesse marasmo. (Caso você não tenha se identificado com nada disso, parabéns, continue desse modo).
  •  "O futebol aliena o brasileiro, fica se importando com isso ao invés de ligar pra política.": Esse argumento vale pra qualquer esporte na verdade, e pode ser desmascarado pelo exemplo, veja só - Você, provavelmente deve considerar países como o Canadá, o Reino Unido, a Alemanha e a Holanda como bons lugares certo? Se a resposta for sim pra algum deles, pense o seguinte: em algum desses lugares as pessoas não se importam com esportes? Não, em todos esses lugares há alguma preferência nacional nesse quesito, os canadenses gostam muito de hockey, os ingleses curtem rugby, além do futebol, que os holandeses, alemães (e o mundo inteiro, basicamente) gostam muito. Isso impediu-os de se tornarem países desenvolvidos? Não. Então não sei porque impediria a nós de alcançar tal feito, não somos tão especiais assim.
  • "A cultura brasileira é uma merda, só tem música ruim e putaria": a cultura brasileira de massa é realmente horrível, mas isso acontece em outros lugares também, esse entreteinimento genérico para o povão que vemos por aí na mídia geralmente deixa a desejar em qualidade, seja aqui, seja na Europa, seja nos EUA ou seja na China. A verdade é que o Brasil tem sim coisas de qualidade, a MPB, da qual eu não sou muito fã, tem coisas boas, o rock nacional também, o que dizer então do samba e da bossa nova? O Brasil é um país imenso e diverso, então creio que tenhamos coisas para todos os gostos aqui.
  • "As coisas não funcionam no Brasil, esse 'jeitinho brasileiro' é nossa condenação, se fôssemos como os alemães/japoneses/ingleses/americanos não seríamos assim": Embora discorde quanto aos americanos, vejo alguma consistência nesse argumento, porém não vejo ele sendo aplicado num futuro próximo (e nem consigo imaginar como chegaríamos algum dia a agir como algum desses povos). Por quê? Bem, sempre que eu vejo um argumento desses, jamais vejo povos como os franceses, os italianos e os espanhóis sendo listado como exemplo. E nem sombra dos portugueses. O que esses quatro povos têm em comum? Todos são latinos. E o que isso tem a ver conosco? Um deles nos dominou por mais de 300 anos (para depois nos tornarmos "independentes" e governados por uma família oriunda deste mesmo país por mais uns 77 anos), outro exerceu sua influência aqui e um terceiro teve vários dos seus imigrando para cá. Tanta presença com certeza moldou nosso caráter, nossa personalidade enquanto povo e enquanto nação, o Brasil pode ser sim considerado também um país latino, dada a presença deles em nossa história. E os latinos tem por características serem passionais, mais indisciplinados, (talvez) mais sujeitos a corrupção, displicentes e menos produtivos. Também não vemos muitos nomes latinos associados a descobertas científicas ou a empreendimentos de sucesso, o fato é que ambas essas características não nos marcam, talvez em decorrência da forte influência da Igreja Católica (que condenava a usura e perseguiu implacavelmente os cientistas na Idade Média) nos países latinos, especialmente em Portugal, um país que nunca se industrializou enquanto possuía colônias (o ouro nosso, de Minas Gerais, foi gasto pagando dívidas a Inglaterra e com coisas como o estúpido Palácio de Mafra, tido por alguns como o resultado do pagamento de uma promessa feita pelo rei da época [é, amigo...], enquanto poderia ter sido usado para industrializar a nação mais tarde). A colonização que recebemos de Portugal também foi diferente daquela recebida pelos nossos vizinhos ao norte do continente - o Brasil nunca pode ter indústrias enquanto foi colônia, nem universidades, e a impressão de livros só passou a ser incentivada com a chegada de Dom João VI aqui em 1808. Em resumo: esse argumento é relativamente válido em meu ponto de vista, mas vejo essas nossas características como uma herança (negativa) da colonização que recebemos e daqueles pelos quais fomos colonizados, e acho que devemos tentar crescer, progredir e se desenvolver apesar disso.
  • "O brasileiro é um bosta alienado, só liga pra celebridades, bbb, futebol, rebolation, axé, funk... ao invés de ver que estão nos roubando no Congresso e subiram os impostos de novo.": Novamente, não posso dizer que isto é uma mentira, se o fizesse, o mentiroso na verdade seria eu. Mas a alienação não é exclusividade nossa, lembre-se de que muitos desses programas dispensáveis nada mais são do que formatos importados de países ditos de primeiro mundo. E rendem lá também, tanto que reality shows de pessoas sem nada a oferecer (Jersey Shore, Keeping Up With The Kardashians) são sucesso nos EUA/Canadá (e com certeza temos exemplos na Europa, mas aí me falta um conhecimento de causa, pesquise você mesmo e depois me diga se não é mesmo o caso).

Terminei esse post nada resumido, para concluir, chego a ideia de que nada é mais característico desse país do que a hipocrisia e o falso moralismo, todos nós (inclusive o próprio que aqui escreve) apresentam isso em algum momento (ou às vezes sempre). Se esse país está ruim, nós mesmos fazemos ele acontecer, e só mudando a si próprio o tornaremos em algo diferente, se eu, você, e todo mundo vamos de fato fazer isso, já são outros quinhentos (por sermos brasileiros, aposto que a resposta é "não" para todos os casos, "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" deveria substituir "ordem e progresso" na bandeira...)

Só pra concluir, não sou nacionalista/patriota/ufanista, bem pelo contrário, não tenho orgulho e ser brasileiro, e acho que não teria orgulho de ser de lugar algum, acho nacionalismo uma puta babaquice e perda de tempo, que nunca a leva a coisas boas. Ainda assim, me irrita o "complexo de vira-lata" apresentado por algumas pessoas aqui, o Brasil não é o pior país do mundo, nós podemos sim ser melhores que os outros em algum(ns) aspectos, por que não? Pensem positivo não que eu faça isso ou que isso adiante em alguma coisa, talvez a gente viva pra ver essa mentalidade mudar e esse país se tornar um pouco melhor.

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